quarta-feira, 15 de maio de 2013

De quem é este chapéu?



Era Verão outra vez.
Milly e Molly tinha terminado o piquenique quando um grande chapéu de palha castanho apareceu a voar pela praia.
— De quem será? — perguntou Milly.
— Anda, vamos descobrir — sugeriu Molly.
Não foi preciso perguntar aos dois meninos que cavavam buracos na areia. Viam-se as pontas dos seus chapéus.
O chapéu de palha não era deles.
Não foi preciso perguntar ao pescador, que estava sentado numa rocha. Ele tinha o boné bem enfiado na cabeça. O chapéu de palha também não era dele.
Não foi preciso perguntar à senhora que estava a encher o cesto com algas. Ela tinha a mão em cima do seu chapéu pois o vento queria levá-lo. O chapéu de palha também não era dela.
Não foi preciso perguntar às meninas que construíam castelos na areia. Elas tinham os chapéus presos com uma fita debaixo do queixo. O chapéu de palha também não era delas.
Não foi preciso perguntar às pessoas que apanhavam sol e mexiam os pés. Estavam debaixo de um grande chapéu-de-sol e não precisavam de proteger a cabeça. O chapéu de palha também não podia ser delas.
Não foi preciso perguntar ao senhor de bengala. Ele tinha o cabelo revolto a sair debaixo do seu gorro. Não era dele.
Não foi preciso perguntar aos surfistas. Eles tinham creme no nariz e os cabelos ao vento. De certeza que não era deles.
E dos quatro mergulhadores?
Na areia estavam quatro pares de botas mas apenas três chapéus!
Será que o chapéu de palha era de um deles?
Milly e Molly colocaram o grande chapéu de palha por baixo do quarto par de botas e correram para junto do seu cesto de piquenique.
No caminho para casa, passaram por várias pessoas, umas com chapéu, outras sem chapéu.
— Espero que tenhamos encontrado o dono certo — disse Milly.
Gill Pittar Milly Molly – Tomo II
Rio de Mouro, Everest Editora, 2006






Alexandre e os seus amigos do deserto




Alexandre e os seus amigos do deserto

Alexandre vivia numa casinha de adobe à beira da estrada perdida no meio do deserto. Ao lado, havia um poço e uma hélice movida a vento. Alexandre e o seu único companheiro, um burrico, dispunham assim de toda a água de que precisavam. Naquele lugar afastado do mundo, Alexandre acolhia de boa vontade quem ali parasse para se refrescar. Mas os visitantes eram raros e iam-se logo embora.
Alexandre sentia-se muito só. Para ocupar os momentos de solidão, decidiu fazer um jardim. Semeou cenouras, feijões e grandes cebolas roxas, tomates e milho, melões, abóboras e pimentos vermelhos. Logo de manhã cedo e durante horas, Alexandre trabalhava no seu jardim. Gostava sobretudo de o ver crescer, antes do calor do deserto apertar e o obrigar a refugiar-se em casa.
Os dias passavam lentamente, sem qualquer novidade, até que uma bela manhã foi surpreendido pela chegada de um visitante. Um esquilo surgiu do silêncio e avançou, lentamente, pé ante pé. Ao vê-lo aproximar-se do jardim, Alex ficou imóvel. O esquilo escapou-se para um rego onde matou a sede e depois desapareceu. Nesse instante, Alexandre deu-se conta de que tinha esquecido a sua solidão, e passou a ficar à espera que o esquilo regressasse.
O esquilo voltou muitas mais vezes e sempre com novos companheiros: ratos de pescoço branco, os geomis da montanha, grandes lebres, ratos cangurus do Texas e ratinhos de bolsa de Bailey. Também vieram muitos pássaros visitar o jardim de Alex: os cucos corredores da Califórnia, os picanços de Gila e os tordos dos remedos de bico curvo. Os trogloditas de cabeça castanha, os pardais de artemísia, de olhos orlados de branco, as pombas da Carolina e ainda muitos mais, que pousavam nos ramos da alfarrobeira, ou descansavam nos catos sanguaro, antes de saciaram rapidamente a sua sede, ao cair da noite. Por vezes, até uma velha tartaruga atravessava lentamente o jardim.
Alex sentia que, assim, o tempo passava mais depressa, porque a cada instante se distraía com um novo visitante. Já não estava só, mas interrogava-se se isso seria de facto o mais importante.
Depressa percebeu que os visitantes não vinham procurar um amigo, mas vinham simplesmente à procura de água. E Alex pensou em todos os outros animais do deserto… o coiote e a raposa cinzenta, os linces ruivos, as mofetas, os texugos, os pecaris (os porcos monteses da América do Sul), os veados, a corça e os cabritos monteses. Encontrar água para todos não era problema. Com o dínamo e o poço, Alex podia fornecer muita água. Mas tinha de descobrir um meio de todos poderem usufruir dela.
Alex resolveu fazer um reservatório. Sem perder tempo, começou a escavar. Foi uma tarefa cansativa, que durou vários dias, sob um sol escaldante. Mas encheu-se de coragem ao pensar que podia ajudar tantos hóspedes sequiosos. Restava agora esperar pela chegada dos animais corpulentos. Alex andava de um lado para o outro, como era costume, dava de comer ao burrico, tratava do jardim… Os dias passavam e nada de novo acontecia. Alex tinha esperança, mas passavam semanas e semanas e tudo continuava calmo. Porque é que os animais não vinham? Alguma coisa devia estar errada!
Depressa se desvendou o mistério. Uma manhã, uma mofeta aventurou-se a chegar perto da poça de água. Mas, mal viu Alex, fugiu para o silvado. Como é que ele não tinha pensado nisso? Era preciso mudar a poça de água de lugar o mais depressa possível. Alex começou a cavar num lugar mais afastado, escondido atrás de um silvado. Acabada a obra, escondeu-se ali perto e esperou. Será que viriam? E desta vez não ficou desiludido!
Uns atrás dos outros, tímida e furtivamente, os animais saíram do deserto. Como a nova poça ficava um pouco afastada da casa e da estrada, os animais não tinham medo. Alex tinha muitas provas disso: a chilreada dos pássaros ao cair da tarde, o sussurro da alfarrobeira na calada da noite, traindo a presença de um coiote, de um texugo ou talvez de uma raposa cinzenta, o passo leve de um veado, os grunhidos dos pecaris.
E, durante as horas passadas a ouvir calmamente todos os ruídos dos seus novos companheiros, Alex pensou que era essa a sua melhor recompensa… O presente que lhes oferecera, a poça de água, nada era, comparado com o que ele recebera em troca: a presença cúmplice e amiga dos animais.
Richard E. Albert
Alexandro et ses amis du désert
Paris, Éditions Autrement, 1997
(Tradução e adaptação)